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DESGRACIDO!

Atualizado: 30 de mar. de 2021



EXERCÍCIO PROFISSIONAL:

Considerado um pioneiro londrinense. Fundador e diretor-proprietário da Folha de Londrina, que forma entre os seis maiores jornais do Brasil. Em 55 inaugurava a primeira rotativa do Paraná e foi o primeiro a ser impresso em off-set no Estado. Jornalista do Ano e 1969, eleito pela imprensa de Curitiba.


REGISTRO:

Nascido em 15 de dezembro de 1925, em Turvo, Estado de Santa Catarina, de onde saiu aos 20 anos e que não gosta de voltar. Filho de agricultores pobres, imigrantes italianos, gosta de salientar que se casou a 10 anos com Marlene Maia Milanez e que mora em Londrina, Norte do Paraná, há 26 anos.


PRINCIPAL INTERESSE:

É o homem que mais viaja (a convite) em Londrina. Conhece mais de 150 países e pretende ir à China. Tem oito títulos e comendas nacionais e dois estrangeiros (Itália e EUA).


CARACTERÍSTICAS CONTRASTANTES:

Não acredita que a imprensa do Norte do Paraná forme a opinião pública. Crê que a região em que atua jamais perecerá, ressurgindo sempre, jogando com as mudanças de sua economia paradoxal e flutuante e tirando partido de suas próprias quedas. A época de ouro do café passou, hoje o Norte do Paraná vive os tempos da fartura da cultura branca – soja e trigo. A seguir, será a hora e a vez da menta. Ou da pecuária. A terra roxa aceita absolutamente tudo e devolve a semente centuplicada.


PONTO VULNERÁVEL:

Quando não é convidado para encontros e reuniões oficiais, ele se convida. Outros pontos vulneráveis: nessas ocasiões, quanto mais oficiais, mais questão faz de dizer um discurso e aparecer nas fotografias.


ÓDIOS CONFESSOS:

Os perdulários, o desperdício, os vícios dispendiosos e todo aquele que empane seu brilho pessoal.


MANIA PRINCIPAL:

Viajar todas as semanas e ir ao Aeroporto de Londrina receber personalidades, autoridades e gente importante.


ORGULHO SECRETO:

É um vitorioso discursando, é um homem que deixa sua marca por onde passa. Faz do caipirismo e da linguagem abertamente matuta o seu meio de charme e envolvimento.


EXERCÍCIOS OUTROS:

Não fuma, não bebe, não joga. Joga bridge porque não reconhece como jogo de azar.


APELIDO:

Patrão. Ninguém na Folha de Londrina o chama por outro tratamento.


CACOETES:

Amorosamente, afetando modéstia, chama o seu jornal de pasquim. Os tratamentos veiaco e desgracido, desgracito ou desgracido (desgraçado) em várias situações íntimas, de camaradagem ou afetividade paternalista. Aos recém-conhecidos usa a expressão filho.


RECEITA PARA VIVER EM LONDRINA:

Evitar a dispersão no trabalho, ter paciência e conhecer a cronometragem das oportunidades. Então, avançar.


LEMA:

O dinheiro não leva desaforo de ninguém.


“Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, desejo de recuar, contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tentativas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes”. São Bernardo, Graciliano Ramos. pg. 37 e 38

João Antônio


O problema do mundo não é ter oradores e, sim, ouvintes. Não é ter escritos, mas leitores. Sempre que vou discursar, sei que não vou fazer uma solenidade fúnebre. Daí, fico a vontade e uso expressões engraçadas e caboclas; eu não vou fazer nenhum discurso com pontos e vírgulas no lugar certo, se daí a quatro horas, os meus ouvintes irão esquecer tudo o que eu disse.


Num espigão do centro de Londrina, defronte ao prédio de esquina da Empresa de Correios e Telégrafos, um pioneiro me é apresentado – João Milanez – com dois pesos ao mesmo tempo. É um pioneiro, um homem dos tempos bravos, heroicos do Norte do Paraná; é um homem conhecido e consagrado dentro e fora do Paraná. Em Londrina, até os postes e as árvores o conhecem, que vem trabalhar a pé, deixando seu apartamento de andar todo, no 15º do Edifício Arthur Thomas. Sobe a Alameda Miguel Blasi, ganha a Catedral e entra pelo Bosque – um caminho curto de menos de uns 500 metros. Seu dodge dart fica na garagem da Folha de Londrina e é usado exclusivamente para trabalhar.


Alto, forte, 48 anos, sotaque catarinense carregado na voz cheia, gesticulando com as mãos enormes de dedos longos, nenhum fio de cabelo branco, abotoaduras de ouro nos punhos da camisa social de preço. João Milanez começa fazendo uma estranha mistura – seu linguajar é regional, marcadamente rural, aqui e ali um toque de paternalismo, mas veste ternos de executivo de cidade grande, tecidos brilhantes e afiança que não perde "uma única madrugada na farra."


Fala sobre bridge, sua paixão atual, extra-empresarial, envolvente e única. No jogo, revela-se um ofensivo, firmando uma boa dupla com sua mulher, Marlene MaiaMilanez, excelente jogadora de defesa.


Conforme sua exposição em fala colorida, franca, em momentos mais vivos até arreganhada, direta, o bridge ganha certa grandeza e mesmo nobreza. Não se trata de jogo de azar. João Milanez repete:


— Não bebo, não fumo, não jogo jogo de azar, não perco uma madrugada na farra. Não gasto um centavo desnecessário, nem ando com dinheiro no bolso. Quando estou em Londrina, faço todas as minhas refeições em casa.


(Os desafetos discordam.


É mais pão duro que o Tio Patinhas. Quando encontra um empregado seu fazendo um lanchinho, critica ferozmente:


Você não tem família, não tem casa? Então, por que não come lá? Está jogando dinheiro fora e sendo explorado.


Pede dinheiro emprestado, trocados, miudezas, caraminguás a seus funcionários – Cr $5.00 e Cr $10,00. Não usa um centavo no bolso para não gastar).

 
“O João Antonio, como um grande escritor e jornalista, fez um perfil à la realidade, à la livros do Gay Talese [...] em que o título foi 'Desgracido', que este tinha a mania de chamar todo mundo de desgracido, não foi ofensivo. O jornal que chega em sua primeira semana, primeira matéria especial do João Antonio fazendo um perfil do dono do jornal concorrente, sem agredi-lo, mas despindo-o, já foi um espanto absurdo para a cidade. O João Milanez gostou, pois ele nunca tinha se visto daquele jeito. Para a cidade, a sociedade local, já ficou meio estranho aquilo, se perguntando ‘mas esses caras querem chegar aonde?’ [...] O jornalismo que a gente fazia espantava” – José Trajano
 

O bridge é carteado das pessoas inteligentes, segundo João Milanez. Principalmente não é tocado pela vulgaridade dos jogos, os de azar, dispendiosos. Faz, de repente, outro paralelo:


— Preciso de alguém sempre na defesa, tenho tendências para a ansiedade e para a impetuosidade. Gosto de jogar bridge como dirijo automóvel.


Gosta de correr no dodge dart creme, mais para areia do que para amarelo. Por isso, só dirige na cidade: para a estrada usa motorista. Interrompe o bridge, o volante, cita muito Sobral Pinto, e a amizade com o ex-ministro Delfim Neto.


— Trabalho dezoito horas por dia no jornal. Nunca tive uma facilidade nesta vida, faz 26 anos, só em Londrina. E aqui não existe nada que não tenha recebido a minha participação. Há 25 anos, eu leio duas horas por dia, todos os dias. Jornal não é indústria, é prestação de serviços. Logo, quanto mais planificação, pior.


Entra em seu gabinete de trabalho o redator chefe. Walmor Macarini Milanez, seu sobrinho e mentor editorial do jornal. Falam baixo, inicialmente; depois, João Milanez, o patrão, se abre num riso largo, paternal. Despacha, dá a palavra final a seu modo.


— Manda esse desgracildo falar comigo.


Reconhece que é um homem de campo, de rua, contatos, viagens. Salienta que só em pessoal de redação, abrangendo fotógrafos, repórteres, redatores e correspondentes, mantém 50 elementos. Somando o pessoal das oficinas, a Folha de Londrina dá emprego a 265 pessoas, e tem uma folha de pagamento que chega a 450 mil cruzeiros mensais.


— Veja, filha: agora meus chefes e editores passarão a ganhar seis mil mensais, mais as facilidades. E eu dou tudo. o jornal tem convênio com a UNIMED para questões hospitalares, facilita crédito para compra de casa ou carro. Dou apoio total, estabilidade e segurança absoluta às famílias de meus empregados, até no caso de morte. Sempre paguei salários que representam o dobro do que o mercado oferece no Paraná. Quando em Curitiba um profissional ganha um mil cruzeiros, eu pago dois. Sou totalmente contra o amadorismo. Os garotos que fazem a distribuição do pasquim, um a um, aí pelas ruas, chegam a tirar oitocentos cruzeiros por mês. Eu pago mal?


(Os desafetos discordam.


No começo de seu jornal, pagava mal. Cumpria o que devia, no entanto, mesmo que fosse pagando através de permuta. Se um funcionário ia se casar, Milanez conseguia móveis para o noivo, oferecendo ao comerciante jornal velho em troca. Era uma fórmula para passar por bonzinho e se ver livre do jornal inútil. Quem não o conhece, que o compre, que o Patrão sempre engendra um disfarce e se coloca bem com as pessoas. Não pagava bem, mas pagava em dia. Iludidos todos nós dizíamos: "ele é um boa praça".


Um funcionário, uma vez, foi pedir aumento. O Patrão mandou que se sentasse e perguntou quanto o empregado gostaria de ganhar. Ouviu, olhos baixos, garatujando no seu bloco papel:


Três mil quinhentos cruzeiros.


Milanez de imediato, mudou o rumo da conversa. Rabiscando sempre seu bloco de papel, falou de suas viagens, estirou para as terras de Hong Kong, Grécia, Bélgica, África do Sul, Chile, Londres, Suécia, Berlim, Washington, Paris, Tóquio, Finlandia, Macau, Nova York, Noruega, Áustria. Falando sem interrupção, dono da palavra, quarenta minutos, garatujando sempre no bloco sobre a mesa. Toca o telefone, é chamado na outra sala. O Patrão se levanta, vai atender noutra mesa, abandona o bloco de papel.


Então, o funcionário solicitante, curioso, olha para o papel garatujado. Escrito de alto a baixo, em quatro colunas, lê-se apenas os mesmos algarismos: 3.500,00, 3.500,00. 3.500,00... até esgotar o espaço da falha branca).


O telefone toca. João Milanez é solicitado à redação, tira os óculos, repousa na mesa e se levanta


— Para fazer este jornal, preciso de um faturamento de um bilhão por mês.


Na redação, toma um outro comportamento. É outro João Milanez, é o Patrão. Brinca com todos, sorri, distribui tratamentos afetivos e paternalistas – desgracildo e saqueiro. Flagra dois de seus funcionários em animada conversa que nada tem a ver com o trabalho e larga uma ironia sorridente:


— Fulano, por que você não convida o amigo aí a ir à sua casa no domingo, e lá prosear à vontade?


Volta à sala, dá ao comutador do ar refrigerado, abre os braços, gesticula, toma um tom lamentoso e observa com os olhos pequenos e vivos o efeito das palavras:


— Jornal é a coisa mais difícil do mundo, filho. Meta-se em outro negócio, é melhor vender garapa para os jacus aí na praça. É fogo na roupa, filho. Estamos tirando 27 mil exemplares e isso já é demais, é uma fortuna para o Norte do Paraná. Depois, tem outras coisas. A redação briga com o departamento comercial, a oficina briga com não sei quem, o entrosamento é difícil. Tenho de chegar e apartar. Às vezes, tudo isso irrita.

 
“A gente sempre trabalhou como sendo uma opção à Folha de Londrina. A Folha de Londrina tinha cadernos diários, no mínimo um caderno de anúncios classificados e dois ou três aos domingos, e nós não tínhamos, o nosso era muito pequenininho. Nós perdíamos, nesse aspecto, violentamente para a Folha, porque muita gente comprava o jornal só pelo classificado. Quem comprava o Panorama era para ler e ter informação, acho que foi um diferencial entre o Panorama e a Folha de Londrina.” – Walter Schimidt
 

Cita novamente Sobral Pinto, salienta que recebe governadores, ministros, promove encontros. Subitamente, começa a se entusiasmar. Destaca com orgulho mal dissimulado, ter sido presidente do Clube dos 21 por dois anos e tratado pessoalmente da integração nacional em Londrina. Em cada mês trazia à cidade e homenageava uma personalidade de cada Estado. Uma iniciativa, insiste em ressaltar.


Conseguiu, como presidente, reunir sete governadores de Estado em Londrina – de Mato Grosso, Goiás, Maranhão, Acre, Santa Catarina, Amazonas e Rondônia. Do feito dos presidentes passa a Chacrinha e retorna:


— Todos os governadores conseguiram promover seus Estados quando estiveram aqui. O governador do Maranhão conseguiu investimentos grandes na venda de terras.


(Os desafetos discordam,


— Tem personalidade de homem desleal (quem, como ele, não tem amigos, é desleal). Politicamente interesseiro, sempre sem uma posição definida, muda de cor de acordo com o ambiente. Os governos passam e ele sempre fica. Politicamente, Milanez pensa: "eu e o meu jornal; o resto é só recheio.)


Diz que soube compreender a idade de Chacrinha, levou-o ao seu apartamento, tratou-o com calor humano. O velho palhaço fez sucesso em Londrina, apresentou-se para mais de 12 mil espectadores no Moringão (ginásio de esportes) e, entrevistado pela tevê local, fez questão de frisar o apoio e o carinho "do meu amigo", o grande jornalista João Milanez.


De uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, discursando ou sendo citado nos discursos, sempre fotografado, o Patrão da Folha de Londrina não perde: brilha. A frase é esta e dele mesmo:


— Não sou apenas mais um em nada em que me meto. Sou um homem que deixo marca por onde passo.


(Os desafetos não interpretam assim.


— Seus fiascos, palhaçadas em público, dariam um livro de mau gosto. Extremamente vaidoso, sem senso de ridículo, chegando a se dirigir a um ministro ou a um governador sem a ética ou a etiqueta básica. Aprecia gulosamente sobressair em reuniões e encontros e quer se fazer notar através de piadas inoportunas).


Quanto a seus comandados, diz que não manda. Pode. Os empregados e até os ex-funcionários confirmam. Mas há os que vêem nisto uma técnica manhosa, urdida, dissimulação hábil para manter o poder nas mãos. Para eles, João Milanez é como os homens de fronteira e os grandes jogadores - coloca-se sempre em posição de poder cobrar alguém e nunca ser cobrado. Uma estratégia.


(Falam os desafetos.


— Na redação é um amigo de todos e paternalista. Só não gosta de dar aumento na folha de pagamento e na carreira profissional, mas de boca pra fora, trata a gente como filho. Nas apresentações oficiais é outro, só cumprimenta as autoridades, faz que não conhece mais ninguém. Cultiva e usa a sua capacidade de fazer rir com discursos apalhaçados e folclores de péssimo gosto. Mas até como picareta é incompetente, levando a pior em grandes jogadas e negócios com organizações de peso. Usa o caipirismo porque sabe que é a sua arma. Apesar de tudo, às vezes a sorte ajuda e acerta em cheio, na mosca: conseguiu pessoalmente o primeiro grande anúncio da Volkswagen para um Jornal de Interior).


— Não gosto de informações fabricadas. Aí, o que tem me ajudado muito na vida é que não tenho grandes conhecimentos de nada. Por isso, acho que tenho de aprender alguma coisa todos os dias. Nunca viajei a passeio, vou aos países e às cidades para observar. Contrariando os que enxergam oportunismo em tudo o que faço, tenho visitado todos os jornais, europeus e norte-americanos, para aprender vendo e observando de perto e não para ser fotografado. Ir a Paris para ver o Moulin Rouge e não ir para as ruas, conversar com o povo, é o mesmo que não conhecer Paris.



Conta-se que alguém de boa observação, uma vez, sabendo da amizade e ligações de João Milanez ao ministro Delfim Netto, fez uma consideração:


— Já pensou neste homem com um título, excelência?


O ministro reconsiderou, de pronto:


— Com o título, ele seria um homem normal.


Para Delfim Neto, o João Milanez intuitivo, sem estudos e arrojado é um homem excepcional. E esse homem que não usa dinheiro bolso, "para não esbanjar” e não tem um cartão de visitas "para poder oferecer um exemplar do meu pasquim a toda autoridade de que me aproximo” não conheceu escola superior e, como a maioria (todos, conforme lacram em Londrina) vem ao Norte do Paraná, começou do nada. Ou antes, da pobreza.


Neto de italianos de Treviso, Milanez aos cinco anos de idade tirava leite de vaca, descalço, com dois graus abaixo de zero, às cinco e meia da manhã, os pés andavam e o menino quase não sentia, que estavam adormecidos. Aos seis anos puxava o boi na carpideira, arando terra em Meleiro, Santa Catarina.


— Nunca tive uma facilidade.


(Os desafetos contestam, engrossando.


— No início da fase do jornal diário, as maquinarias, o próprio terreno onde está construído o prédio da Folha de Londrina, foram adquiridos por João Milanez com cheques e promissórias sem nenhum provimento, que posteriormente eram transformados em letras de prazo longo. Dessa forma, até hoje há muito cheque sem fundo, que é guardado, sem remédio, como lembrança. Teve um processo criminal que redundou em condenação, mas devido à sua condição de primário, recebeu sursis. No entanto, essas certidões sumiram de cartório, pois, do contrário, não poderia ter recebido o título de Cidadão Honorário do Paraná. Coisas do Milanez. Quem falar nelas será processado por difamação e terá de pagar indenização alta. E ninguém é besta.


— Pioneiro? Nada! O verdadeiro pioneiro da imprensa em Londrina foi Humberto Puigari Coutinho com o jornal semanário Paraná Norte, por volta de 1940. Em 43, o redator-chefe era o professor Moacir Teixeira. Milanez não é fundador nem mesmo da Folha de Londrina, o jornal já estava fundado quando ele chegou à cidade. Um dos proprietários era o sr. Addoral Araujo, também residente na cidade. João Milanez entrou para o jornal como corretor de anúncios. O seu passado o condena, houve coisas sérias, mas tudo está esquecido. Sua personalidade é exaltada e também ridicularizada. A madrugada que passou não voltará jamais, tudo virou folclore e Milanez passou a perna no passado).


Hoje, falando, usa a gesticulação de mãos, italianada, com muita facilidade.


Naqueles tempos de colonização de Santa Catarina, abria-se uma clareira na mata e jogavam-se trinta, quarenta famílias, que se arrumavam lá, misturando-se aos bugres da terra. Arando terra, João Milanez passou por várias categorias como lavrador de milho, feijão, arroz.


Tafona. Duas pedras pesadas, uma contra a outra para moer o milho, método manual dureza. Isso, o Patrão viu de perto e, como sua família vivia sob o matriarcado italiano, trabalhou até 20 anos como obrigação familiar.


Gozo perfeita saúde. Não preciso fazer ginástica para manter a forma. Nunca fui a um médico, vou ao dentista quando tenho tempo. Acho que até os 20 anos, fiz ginástica que valeu para o resto da vida. Como bem e durmo bem. Não há comida que eu não possa comer.


(Os desafetos observam.


— Pão duro de marca. Adorava comer de graça nas reuniões do Rotary Club e insistia, até que o notaram. Então disseram:


“— Esse cara aparece sempre aqui para filar comida. Vamos dar um lugar de sócio a ele. Assim, pelo menos, come mas paga a taxa de associado”.


— Ofereça um almoço ao Milanez, uma foto e uma viagem. Depois disso, você terá tudo com ele).


Veio o tempo do serviço militar, gostaria de ter estudado (“só no exército eu poderia estudar”). Não estudou e depois da farda, encarou dificuldades novas e preocupações tremendas. Com o seu irmão mais velho, enfrentou uma mina de carvão em Criciúma, capital do carvão. Foi gerente, quase dois anos, da Mina do Toco, a 25 quilômetros de Criciúma, refúgio de bandidos, assassinos, ladrões e pistoleiros. Dirigia as turmas de homens com um olho na vida e outro na morte – dois Taurus enfiados no cinto.


— Hoje detesto bêbados, violência, armas. Quando saí da Mina do Toco prometi não usar mais arma nenhuma. Éramos seis, entre nossos irmãos. E eles formavam brigas e pancadarias que duravam até vinte minutos, com meu pai metido no meio. Até hoje tenho neurose daquele lugar. Eu pedia, eu gritava pra eles não beberem, que aquilo era loucura. Mas eles me gritavam, me xingavam, dizendo que bebiam para esquecer aquele inferno de vida. Antes dos 20 anos, eu também tinha trabalhado com madeira, serra circular e tinha enfrentado a luta do rio que nas enchentes costuma arrancar e levar tudo, até animais vivos. À noite, tinha pesadelos com rios cheios e animais mortos boiando nas águas. Havia brigas de facão naqueles cafundós da Mina do Toco, rixas entre famílias que duravam oito, dez anos. Para mim era uma luta incrível ficar ali. Tinha de separar as bebedeiras de meus irmãos. Eu não queria entrar na bebedeira, na pauleira, na cachaça. Por isso, sou o homem que faz tudo para não voltar duas vezes ao mesmo lugar.


Muito esforço, em 1946, mandou-se para São Paulo, ainda mais porque atraído pelo auge da construção civil na capital paulista. Pretendia trabalhar como carpinteiro ou se defender no comércio. João Milanez aos 48 anos ainda mantém as habilidades manuais, sabe carpinejar, construir móveis, lidar com ferramentas e madeira.


— Vim pra Londrina quase por acaso, atraído por um vizinho de quarto de pensão. Aqui vendi títulos de capitalização, trabalhei com papéis e em 1947, ano em que cheguei, tinha reunido uma economia de 400 mil reis.

 
“O João Antonio chegou e foi incrível, porque a gente sabia do Malagueta, Perus e Bacanaço [1963, premiado com dois Jabutis], quem era o João Antônio, que tipo de escritor ele era, então eu logo me encantei com ele. Eu ia fazer matérias com ele, a gente ia na zona mesmo [...] pensa bem, uma menina de 18 anos indo com o João Antonio pra zona, cara. Tinha um restaurante na zona que chamava Restaurante do Toninho, e a gente ia pra lá porque o pessoal ficava trabalhando até tarde, mas no fim todos se encontravam na madrugada. Eles levavam a gente para os restaurantes… esses restaurantes que só se frequentavam na madrugada, que o pai e a mãe da gente falavam que era da turma dos vagabundos, aquelas coisas, e a gente estava vivendo tudo isso.” – Elvira Alegre
 

Meteu-se em sociedade com Correia Neto no mesmo ano, e rápido, sacrifícios e oportunidade, tornou-se dono único do jornal Folha de Londrina. Não teve domingos, feriados ou dias santos de guarda. De segunda a sexta-feira saia pelos matos do Norte do Paraná, de ônibus, captando assinaturas e em suas andanças traçava um triângulo de Santo Antônio da Platina a Paranavaí e a Porecatu. Trazia as assinaturas e colhia as notícias para o jornal, pouco mais que um tablóide semanal, rodado em máquina Minerva.


Quatrocentos mil réis em 1947. Assim, até hoje chama afetuosamente o seu jornal de pasquim. Gastava duzentos mil reis para fazer o jornal - passava o dinheiro a Moacir Arcoverde, um advogado, a quem Milanez ditava tudo, com detalhes. Aos sábados e domingos, ele distribuía os mil exemplares. Descansava, andando.


— Mas sempre tive dinheiro para o pasquim. Moacir Arcoverde me dizia: “Milanez, bota aí em cima da mesa o dinheiro adiantado. Eu trabalho melhor vendo o dinheiro na minha frente”. Eu sempre paguei duzentos mil réis adiantados.


Assim, aos poucos, em 51, ano de ouro da explosão, do café em Londrina, no Norte do Paraná e nos Interiores do Estado de São Paulo e no Brasil, Milanez já era importante e influente, levava ou ia receber políticos no aeroporto. E lhes apresentava a cidade.


Confessa que onde houvesse dinheiro, estava lá, o jornal na mão como cartão de visita. Ainda hoje é um vendedor, não se sente um homem de gabinete ou de redação. Entrava no mato, ia catar, arrancar o leitor ou assinante lá de dentro. Com o movimento do algodão, em 1953, quase o mataram em Assaí por uma discussão que bem poderia não ter sido travada.


(Os desafetos reconhecem.


— Não deixa de ter o seu valor, o aspecto positivo. Conseguiu fazer um jornal, e bom, apesar dos meios que usou. É um batalhador e lutou muito, de todos os modos, para chegar ao que chegou: é dono do melhor jornal do Paraná. Sovina, isso ele é mesmo! É cínico. O cinismo chegou ali, parou e montou residência. Os seus defeitos são conhecidos, mas prescritos, na maioria. Outros continuam na memória do povo. Havia, por exemplo, críticas incríveis quando ele foi apresentador de tevê. Não tinha a menor condição intelectual – e nem mesmo voz – para entrevistar políticos, homens importantes, intelectuais e artistas. Vomitava uma enxurrada de besteiras, quando abria a boca. Os telespectadores riam).



— Acho que não devo impingir nenhuma linha geral a nenhum profissional que trabalhe para mim. Mas a linha de conduta, quem dita sou eu. Dada a minha origem, tenho medo de voltar ao passado. Eu cuido do que tenho no presente. Muita gente tem inveja e deseja que eu caia. Um jornalista do Interior é um homem que não pode sequer beber, pois pode se estraçalhar pelo caminho. Depois tem que, a bebida e o cigarro, se não fazem mal, também não fazem bem. Muitos me invejam porque eu entendo que os políticos passam e os ministros caem, mas o meu jornal fica.


O crescimento do jornal, segundo o Patrão, foi normal até montar off-set, há três anos, inaugurando esse processo de impressão no Paraná. Hoje, a Folha de Londrina, circula em todo o Paraná, Centro, Sul e Capital do Estado de Mato Grosso e cobre uma região onde vivem mais de sete milhões de pessoas. É visto como um dos seis maiores jornais do País.


Milanez, em momento lamentoso, diz ter pretendido vender a Folha de Londrina a Assis Chateaubriand, numa de suas passagens pela cidade. Mas recebeu uma resposta rente:


— Não venda este jornal. Não é coisa que se venda.


Em 26 anos lidando com todo tipo de gente, desde motoristas até Presidentes da República, João Milanez manda anotar que não tem tempo para falar à toa, “cuido do meu negócio” - cursou a melhor universidade do Brasil, a vida no Norte do Paraná.


(Os desafetos pensam diferente.


Milanez é uma cobra que já perdeu o veneno, um penetra, uma bananeira que já deu cacho. Já viveu a ilusão de se tornar um barão da imprensa paranaense, hoje vive de folclore. O que sabe fazer é entrar triunfalmente contando piadas nas reuniões oficiais, cavar um lugar na mesa de honra até mesmo sem ser convidado e trabalhar, rápido, sua técnica de aparecer em todas as fotos. Aparece mais do que o dono da festa, o governador ou ministro. Noventa por cento das fotos de acontecimentos oficiais de Londrina mostram a sua cara em algum canto).


Evita qualquer desperdício. Vida milimetrada, todo tempo em passo medido, horror de voltar a terra e situação de onde saiu, conversa durante seis horas e se mantém em guarda. Confessa que ninguém, e ainda menos ele, pode se casar sem uma boa conta bancária. Casou-se aos 38 anos, conscientemente, vida assentada.


— Isto é estatístico, filho. Os casamentos fracassam pelo fator econômico. Você tem alguma ilusão? É estatístico, está provado nos Estados Unidos. Eu tenho muitas obrigações sociais, mas sou casado com uma mulher que sabe determinar tudo, é inteligente, fez muitos cursos e é uma intelectual. Ela se coloca numa posição defensiva e isso é bom para mim.


Não tiveram filhos. Tem um apartamento de andar todo no centro de Londrina e no salão principal, enorme, mobiliado com madeira de lei mostrando quadros de várias naturezas na parede, há uma mesa de doze lugares, onde, não raro, há banquetes para políticos e homens importantes. Ainda assim, tudo milimetrado:


— Banquetes, eu dou. Mas minha casa não é lugar para romaria. Doze lugares já é o bastante.


A fala descarnada, franca, aberta, povoada de termos locais e da gíria regional favorece, firma um laço de simpatia que liga, por sua vez, João Milanez ao que ele mais preza: o brilho em público, principalmente em encontros oficiais. Procura estabelecer um clima de surpreendente e sólida sinceridade. Na TV, como entrevistador de um ministro, saiu-se com esta para os telespectadores:


— Quem paga o salário do ministro somos todos nós.


Atacado pelos desafetos, “esses cretinos”, manobra com uma carga de autocrítica propositada:


— Eu não teria condições de fazer jornal pela condição intelectual, sou um picareta, mas só tenho inimigos profissionalmente. Já houve temporadas em que fiquei dezenove horas seguidas e, quando comecei, não tinha dezenove horas seguidas no jornal e, quando comecei, não tinha nem tempo para ir ao dentista. Quase diariamente ainda determino as chamadas de primeira página e leio o editorial. Esforço-me e pode ser que indico entrevistas e sugiro assuntos palpitantes, apenas por intuição. Ainda hoje, 26 anos depois, o jornal me consome, no mínimo, quinze horas por dia. Podendo, vou dormir cedo. Mesmo não podendo, acordo cedo.


Oito horas da manhã, pouquinho antes, chega à Folha de Londrina. Despacha primeiro com o departamento de produção. É um homem que quer saber logo das boas, e ainda mais, das más notícias. Tem todo o jornal na cabeça: "sou de produção e não de detalhes". Às dez horas, no seu Dodg Dart está fazendo contatos com as empresas anunciantes. Almoça religiosamente em casa, horário milimetrado: meio dia e quinze ou meio dia e vinte. À tarde, fica no jornal, supervisiona, desce à oficina e à impressão. Não tem agenda, guarda tudo de cabeça, seu gabinete tem nas paredes diplomas e certificados de honrarias, títulos e comendas. Não tem grande arquivo pessoal, manda distribuir, aos interessados, um currículo vitae de duas laudas em xerox. Não programa reuniões, improvisa encontros com seus editores. À entrada da noite, por volta das 19 horas, gosta de estar em casa.


— Gosto de me poupar. Não carrego dinheiro no bolso porque, entre outras coisas, evito ser assaltado. Sou contra toda forma de esbanjamento. Se entro num restaurante e se peço um bife, vou comer tudo. Viajo muito e viajar, para mim, é uma forma de descanso do trabalho diário. Prefiro ter crédito do que dever.


Sabe na palma da mão o jogo das conveniências. Conhece o funcionamento do termômetro da região – é o primeiro a chegar ao aeroporto para receber uma autoridade e sai acompanhando a autoridade. É seguramente o homem de Londrina que mais viaja e também o mais fotografado. E confessa não mais perder o sono porque não foi cumprimentado na rua. É hábil em poupar tempo e dinheiro. Revela que não possui nenhuma carteira de ações em nenhuma Bolsa de Valores do País. Mas faz uma apologia das cadernetas de poupança com seus juros, dividendos, correção monetária e seguranças. Assume a sua economia preocupada e até a defende:


— Não é justo que patrões que moram em mansões não paguem seus empregados. O dinheiro não atura desaforo de ninguém. E até uma frase tem sabor de dinheiro. Quando se gasta mais do que se deve, o dinheiro desaparece definitivamente de nossas mãos. Só gasto o estritamente necessário. Não posso negar que sinto medo de voltar a ser o que já fui.


Para cumprir um compromisso, desmancha qualquer prazer. Irremediavelmente contrário àquilo que chama desperdício, costuma ir só uma vez ao melhor restaurante de cada cidade que conhece. Assim, em Nova Iorque, gastou 30 dólares no Astoria. Uma vez na vida, nada mais.


— Indo ao Rio de Janeiro, quando em quando como no Bife de Ouro, na Pérgula do Copacabana Palace Hotel. Vai aos teatros das cidades que visita apenas para conhecê-los. Uma vez, nada mais.


(Os desafetos dizem o que dizem.


Adora viajar de graça, é capaz de tudo para se fazer convidado e não gastar um figo podre. Na primeira viagem que fez a Miami, conseguiu sair de Londrina na condição de psiquiatra convidado para uma convenção internacional).

 
“O João Antonio foi meu grande padrinho. Eu entreguei uma cópia do conto O Encalhe dos Trezentos, que tinha ganhado o Prêmio Paraná de Literatura, datilografado. O João leu e disse: 'Pô, eu posso publicar na revista Civilização Brasileira?' Publicou, e a editora Civilização Brasileira perguntou se eu não tinha livro. Aí eu peguei meus contos, reescrevi tudo e surgiu meu primeiro livro [O homem vermelho] que em 1977 ganharia o Prêmio Jabuti.” - Domingos Pellegrini
 

Umas palavras aos jovens que estão começando ou estudando comunicação:


— É preciso estudar o máximo mesmo que não seja para exercer a profissão, que é grande e bela, - mas não dá rentabilidade, vale mais como uma prestação de serviços. Fazer jornal não é difícil: difícil é achar quem nos leia. Off-set é coisa pra jacu. O Estado de São Paulo, notem, não tem off-set e é o jornal. Depois que meti off-set não ganhei mais dinheiro com jornal. Para resolver mesmo, filho, há duas maneiras: linotipia e rotativa: mesmo assim, ficarei fazendo jornal até quando puder e, se não der, quero cair de pé, sair honrosamente, sem mágoa nenhuma.


(Os desafetos acham que ele sempre cairá de pé, se cair.


Ninguém tem coragem de atacá-lo porque em Londrina e no Norte do Paraná, todos vivem mais ou menos de rabo preso e tem culpa no cartório. É conveniente estar de bem com os jornalistas para evitar o aborrecimento de certas reportagens reveladoras. A maioria teme que alguma coisa de sua vida possa ser divulgada, principalmente aqueles que dependem de promoções em empregos públicos).


Dizem que ele se fez graças à cidade. Ele diz que gostaria de ter feito o jornal que fosse o coração da cidade. Em seis horas de conversa, João Milanez, o Patrão, o pioneiro, parece ganhar um momento claro de visão de si mesmo e da cidade que o viu chegar, ver e vencer:


— Não se pode fazer formação de nada em quarenta anos. Londrina sofre disso, até sua economia é flutuante. No entanto, transitória e transferível. É uma cidade em que todos os homens de juízo não devem rir de ninguém que tenha um cheque protestado ou uma falência. Amanhã ou depois, a coisa muda, como mudou do café para o algodão e para a soja. E, então, o falido poderá estar nos emprestando dinheiro a juros.


Querendo, disposto ou motivado, tem memória fotográfica:


— Em 1951 vivemos aqui uma fartura como nunca se repetiu. Naquele tempo, alguém já percebia que Londrina abriga gente de 44 nacionalidades e mandou colocar um cartaz enorme na entrada rodoviária da cidade, contendo estes dizeres: IGUAIS A VOCÊ AQUI EXISTEM DEZ MIL. De santo a malandro, de honesto a ladrão, de homem de bem a canalha, todos que lessem aquele cartaz estariam tomando conhecimento de uma verdade. Londrina tem, ainda hoje, todos os tipos e caracteres de pessoas. Desde 51, faço esforço para não me dispersar me atirando a outros negócios. A cidade oferece oportunidades falsas, é necessário saber escolher e se concentrar na coisa certa. É uma terra para gente que goste de instabilidade. Tenho visto muito nestes últimos 26 anos: cariocas, baianos, paulistas, gaúchos que vem viver aqui e, depois, não se ajustam a nenhum outro lugar.


Fala italiano, espanhol, tem feito palestras no Rotary Clube e no Lions. Para o gasto, entende inglês e francês. Acha que se deve saber o essencial, mas garante que se trabalhasse no Itamarati, trataria de conhecer o idioma inglês como ninguém. Em suas andanças, conservou a paixão pelos discursos e ouviu Pearl Book, Nelson Rockefeller, John Kennedy, Eisenhower e De Gaulle ao vivo. Livre e franco, o general francês foi quem mais o impressionou. Tem predileção rasgada pelos oradores de charme, tempero de humor e graça e que arrancam risos do público. Em Campo Grande, no aeroporto, fez o presidente Ernesto Geisel rir quando colocou o jornal Folha de Londrina à sua frente, dizendo:


— Senhor presidente, este jornal não é para ler, é só para olhar.


(Mas os desafetos nunca o olham com esportividade.


— Ele consegueavacalhar qualquer tentativa de protocolo. Não leva nada a sério, a não ser o dinheiro e o brilhareco nas reuniões oficiais. Quem se meter, por mais inocente, a empanar o seu brilho, vira seu inimigo).


Trabalhador intenso, a seu modo, conheceu dias inesquecíveis de corre-corre. Quando diretor da Sociedade Rural do Paraná, chegou a visitar cinco ministros no mesmo dia, usando a mesma técnica de entrevista: prefere falar pouco, manter o seu crédito de tempo com a autoridade e sai de cena numa posição que permita cobrar outra entrevista no futuro.

— Alcancei todos os meus objetivos, um a um, mesmo aos pouquinhos. Nunca fui barrado. Acho que os meus desafetos estão errados. Por isso também não faço o que eles fazem. Não posso fazer o que reprovo. O que tenho evitado, nestes anos todos, é receber ou dar um não. Dizem que sou cretino, safado, intrometido, analfabeto. É que nesta profissão eu também sou uma vidraça em que se atiram pedras. Não é, meu filho?

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