O Instituto Gallup de Opinião Pública está realizando uma pesquisa de âmbito mundial, conduzida nos cinco continentes e abrangendo inclusive o Brasil. O objetivo é conhecer a "situação atual da humanidade". Um trabalho jamais realizado na História. Londrina foi ouvida pelo Gallup, a pedido do Panorama. Seus pesquisadores aplicaram na "maior cidade do Interior do Brasil" os mesmos questionários da Pesquisa Mundial Gallup. Em seu relatório, o Instituto explica: "Embora apenas alguns dos questionários aplicados em Londrina tenham integrado a amostra representativa da população brasileira, ampliou-se o seu montante para 192 casos a fim de tornar os resultados representativos da Cidade de Londrina. Foi adotado um sistema probabilístico de amostragem e os trabalhos de campo foram realizados entre os dias 28 de janeiro a 2 de fevereiro de 1975. Depois de tabulados e analisados, os resultados passam a integrar o presente relatório que visa mostrar quais são atualmente as aspirações e algumas atitudes diante da vida encontradas na população de Londrina. "Foram entrevistadas 192 pessoas, distribuídas assim: 100 mulheres e 92 homens; na classe A, 97 pessoas; 63 na classe B; e 32 na classe C; por idade: 105 entre 18 e 35 anos; e 87 pessoas com mais de 35 anos. O resultado, portanto, é extenso. Abrange toda a gama das aspirações do londrinense, sua situação econômica, sua posição diante do mundo, sua saúde, etc. Vamos publicar, neste Conselho de Cidade, algumas das 92 tabelas obtidas no trabalho do Instituto Gallup. Um resumo do que acha de si mesmo e do resto da Humanidade o londrinense, cidadão do mundo.
A grande maioria dos habitantes da cidade lê jornais (80%). Dos 20% que não leem jornal, evidentemente, grande parte está na classe C. O grau de informação, porém, eleva-se com o maior veículo de comunicação de massa da atualidade: apenas 4 em cada 100 londrinenses declararam que não veem televisão. Convém notar ainda que 81% da população ouve rádio também.
O que é que o londrinense mais deseja no futuro? Os mais jovens, de sexo masculino, foram levemente maioria ao responder que desejam "um casamento feliz, lar agradável, amor entre os membros da família, uma boa esposa, ter filhos". As mulheres foram levemente maioria em outro item: "melhorar o nível de vida, ter um nível decente para si ou para a família, ter dinheiro suficiente para viver melhor, não ter dívidas, não sofrer ameaça de pobreza, não passar necessidades".
“Tinha na primeira edição uma matéria sobre comportamento e a vida em Londrina, em que eles traçaram o perfil do londrinense como uma pessoa brega. Se vocês notarem, grande parte das matérias têm sempre um lado crítico. Aquela frase famosa: 'jornalistas têm posição, são seres morais', eles levam ao pé da letra. Sempre tinha um lado puxado para o lado negativo.”- Wilson Serra
Interessante notar aqui que, no item "estou satisfeito com as coisas como estão atualmente, não quero nenhuma mudança” apenas um concordou: era homem, da classe A e com menos de 35 anos.
E do que é que o londrinense tem mais medo? A maioria, mais de um terço, lembrou-se da morte: doenças, acidentes. O segundo item mais lembrado está ligado a coisas materiais: 23% temem o empobrecimento, dívidas, fome – principalmente na classe C (31% contra 21% na classe A e 24% na classe B); têm mais medo de ficar pobres os de mais de 36 anos (29%) que os mais jovens (19%).
"(...) A cidade de Londrina não tinha se visto, não sabia como ela pensava, então o Narciso contratou uma pesquisa do Gallup que e perguntou para os moradores de Londrina uma série de coisas: como é que eles viam a homossexualidade; como enxergavam o preconceito racial; o que eles pensavam da vida; como que era a educação na cidade. Em função dessas respostas, nós preparamos várias reportagens. Então foi a primeira vez, eu não sei em quantos anos na cidade de Londrina, que a cidade começou a conhecer o que a população pensava dela mesma, dela Londrina.” - José Trajano
O medo de ficar sem amor, de ser abandonado, de não casar, de não ser feliz no casamento – esse medo está em quarto lugar nas preocupações. Apenas 14% dos entrevistados responderam sim a este item. Mais os homens (16%) que as mulheres (12%); e mais os jovens (17%) que os de mais idade (10). Apenas 4% demonstraram preocupação de "perder a liberdade de pensamento e ação, não poder ter seus próprios interesses, não ter possibilidades de ler ou continuar estudando." Esse item, não houve nenhuma resposta na classe C, nem entre os mais velhos. Apenas 3% disseram que "não conseguem pensar em nenhum tipo de preocupação ou medo". No entanto, um total de 81% declarou-se "muito feliz" ou "pouco feliz" – para no item seguinte os mesmos 81% declarar que "ficariam mais felizes se pudessem mudar alguma coisa na vida". A contradição continua em outro item: quase um terço respondeu que acha a sua vida atual "chata”. E, apesar de acharem chato, 63% das pessoas responderam que levam a vida "muito a sério".
Metade dos londrinenses trabalha fora (49%). A outra metade, 51%, divide-se entre donas de casa (25%), estudantes (16%), e aposentados (3%). Em cada 100 londrinenses, 3 estão desempregados. No entanto, 6 em cada 100 declararam que estão procurando emprego, o que leva a crer que pelo menos 3% não se sentem satisfeitos na atual situação profissional. O item seguinte esclarece melhor. Numa escala de 0 a 10, o londrinense foi convidado a dizer em que nível de satisfação se colocaria diante de sua atual ocupação. Doze por cento se colocou abaixo de 5, ou seja, abaixo do que seria "mais ou menos satisfeito'' com o trabalho. No nível 5, "mais ou menos”, colocaram-se 10%. Somando tudo: entre 0 e 5, colocaram-se 22%; de 6 a 10, 78%. No nível 10, apenas 12%. Os homens estão mais satisfeitos que as mulheres: do grau 6 ao grau 10, ou seja, dos que se consideram de "mais ou menos" até “muito satisfeitos" apenas 32% são mulheres, 68% são homens.
A compreensão se estabelece melhor no próximo item: metade dos londrinenses respondeu que, se pudesse começar tudo de novo, escolheria outro tipo de trabalho; no entanto, embora as mulheres tenham declarado mais insatisfação com o trabalho que exercem atualmente, só 25% entre os que gostariam de mudar eram mulheres.
— A senhora está satisfeita ou descontente com sua atividade de dona de casa?
Apenas 4% das donas de casa responderam que não estão satisfeitas. E mais 4% responderam que "mais ou menos" (respostas segundo atribuição de graus, de 0 a 10). Assim, a absoluta maioria das donas de casa deu notas de 6 a 10 a sua satisfação de ser o que são. O que não impede que grande parte delas, quase metade (44%), tenha vontade de trabalhar fora.
Quando não está trabalhando, o londrinense lê (41%) ou visita amigos (32%), principalmente. (Aqui as respostas são múltiplas e o total dá mais de 100%). Em terceiro lugar, vem as atividades familiares: cuidar dos filhos, ficar com a família, ver TV, ouvir música. Os jovens leem mais e fazem mais visitas que os mais velhos: 52% contra 26% no caso da leitura, 40% contra 23% no caso das visitas. As horas de lazer também são ocupadas por esportes, mas isto vem em sétimo lugar na relação – atrás inclusive de viajar ou tomar cerveja com amigos. E na prática de esportes – nadar, pescar ou jogar futebol – a classe C ganha: 28% contra 14% da classe B e 19% da classe A. Em compensação, embora goste de praticar esporte, o londrinense respondeu que quase não gosta de ir ao futebol. Apenas 1% declarou-se disposto a ir ao estádio. E nenhuma mulher. Também ninguém na classe C.
— Já aconteceu nos últimos 12 meses não poder conseguir para si ou para sua família assistência médica de que precisavam?
87% dos entrevistados respondeu que sim: e mais a classe A (92%) que a B (86%) ou a C (75%). Contudo, apenas um quinto dos londrinenses deu nota de 0 até 5 (de ruim a regular) para a sua saúde. Oitenta por cento deu nota de 6 a 10, o que significa que a maioria está satisfeita com sua saúde atual. Se a população urbana está em torno dos 200 mil habitantes, os ateus não chegam aos 20 mil, ou menos de um décimo. É o que se pode inferir da resposta à pergunta: "Pratica religião ou tem alguma crença religiosa?” Apenas 8% disse que não. E dos 92% de praticantes ou crentes, a grande maioria (81%) declarou-se católica. Em proporções quase iguais, dividem-se os presbiterianos (2%), evangélicos (2%), protestantes (2%), batista (1%), umbandistas (1%), espiritas (2%) e praticantes de outras religiões (2%).
Há um porém; embora 92% tenham declarado que praticam religiões, apenas 57% acreditam na sobrevivência após a morte. E, em contrapartida, quase metade dos que se declararam não-religiosos – e que, portanto, seria de se supor que fossem ateus – declararam que acreditam em Deus ou num Espírito Universal.
Acima de problemas metafísicos, porém, estão os problemas terrenos e materiais. 35% dos londrinenses afirmam que sua família está enfrentando atualmente problemas de dinheiro, ou "não possuem dinheiro suficiente para viver decentemente", ou reclamam do custo de vida e impostos altos. Outros 10% reclamaram de doenças na família, falta de assistência médico-hospitalar e remédios caros demais. Apenas 1% reclamou do essencial: falta de alimentos em casa (1% na classe C).
— Já lhe aconteceu no último ano não ter dinheiro para comprar alimentos de que necessitava?
A esta pergunta, a absoluta maioria (92%) respondeu não. Os 8% que não tiveram dinheiro para comprar comida nos últimos 12 meses distribuem-se entre as três classes, com evidente predominância na C (28%), contra 6% na B e 3% na A. Outros 15% disseram que lhes faltou dinheiro no último ano para comprar roupas; e 17% não tiveram dinheiro para comprar remédios ou pagar médico. A preocupação com isso é realmente grande. Apenas 30% dos londrinenses dizem que "quase nunca se preocupam" com o fato de sua família ficar sem dinheiro para contas e despesas; 27% se preocupam "o tempo todo"; 16% se preocupam "grande parte do tempo"; e 27% se preocupam "alguma parte do tempo". Uma única pessoa entrevistada recusou-se a dizer se se preocupa ou não: um homem da classe A, de menos de 35 anos.
“O pessoal de São Paulo e do Rio, tinha certa desatenção. Não percebia que Londrina, apesar de herdar muitas características de SP – quase como filha e não ter nada a ver com Curitiba, sempre libertária em toda sua história – era pequena, uma cidade do interior.” - Nilson Monteiro
De quanto, então, precisa uma família de pai, mãe e dois filhos, para viver em Londrina? Precisa de até 600 cruzeiros, responderam 2% dos entrevistados. Na classe C, 3% dos entrevistados acharam isso. Mas houve 2% também na classe B; e curiosamente mais uma vez aparece um único entrevistado na classe A, com esta opinião. A maioria (61%), porém, mais sensatamente calculou que uma família de quatro pessoas precisa entre 600 e 3.000 cruzeiros para sobreviver. Na classe C, a porcentagem dos que concordam com isso é arrasadora: 85%, enquanto na Classe A são apenas 50% os que acham que uma família precisa entre 600 e 3.000 cruzeiros mensais.
“Londrina começava a pintar com uma cara de metrópole naquele tempo, e ao mesmo tempo era provinciana, o próprio sonho era provinciano.” - Domingos Pellegrini
Mas quanto ganha a família média em Londrina?
A média está realmente entre os 600 e os 3.000 cruzeiros: 45% dos entrevistados declararam que a renda de suas famílias está naquela faixa (17% entre 600 e 1.500; 12% entre 1.500 e 2.250; e 16% de 2.250 a 3.000). É bom não esquecer, porém, que 62% da classe C ganha até 1.500 cruzeiros; e que suas famílias são bem maiores (metade da classe C, ou 49% declarou ter entre 4 e 10 filhos; na classe B, 32% tem tantos filhos; e na classe A, apenas 28%). Agora, nossa cidade. Quais são seus problemas atualmente? Qual o maior deles? "Higiene e limpeza", eis a resposta mais frequente: 18%. Os reclamantes falam em "falta de saneamento básico, de água, calçamento e asfalto, ruas sujas". Em segundo lugar, 11% pobreza e criminalidade: "falta de assistência ao menor, muitos pobres, insegurança, muita gente pedindo esmola, muitos menores abandonados", o cidadão londrinense reclama. Outros 11% falam em "salários baixos, preços altos". O trânsito, o barulho, desastres, estes problemas ainda não atingiram em cheio o londrinense: apenas 10% reclamam destas coisas da cidade muito grande. Contudo, somando todas as demais reclamações, o resultado mostra que há várias pedrinhas machucando por dentro do sapato: saúde e assistência médica (8% de citações); falta de alimentos, energia (5%); falta de diversões (5%); poluição (4%); escolas caras (2%); tóxicos (2%); falta de casas adequadas (2%); corrupção de agentes do governo, de funcionários públicos (1%); e outras dores menores.
Apesar de tudo, quem está insatisfeito com a cidade? Pouquíssima gente.
— Para uma pessoa viver, Londrina é um lugar melhor ou pior do que era há 5 anos?
— Melhor para se viver – respondem 71% dos londrinenses.
Nove por cento responderam que está igual; três não quiseram responder; e 17 por cento apenas acham que piorou. Os dados conferem, na atribuição de "notas" de 0 a 10. Treze por cento acham que Londrina, como lugar para se viver, merece nota de 1 a 5; e a imensa maioria (76%) da nota de 6 a 10. Nos graus maiores, 8, 9 e 10 (média 9, portanto), Londrina recebeu 66% dos votos de seus cidadãos; 63% dos votos dos homens; 69% das mulheres; 64% dos da Classe A; 65% dos da classe B; 79% dos da classe C; 64% dos votos de jovens entre 18 e 35 anos e 70% dos votos dos mais velhos. O cidadão, apesar dos pesares, gosta da sua cidade.
"Como londrinense, a gente lia a Folha de S. Paulo, Estadão, Jornal da Tarde, publicações da Abril, mas a gente não lia O Estado do Paraná. Londrina era uma cidade muito arejada, que já vinha de festival de música, os primeiros festivais de teatro, tinha uma vida cultural animada.” - Célia Regina de Souza
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